O uso do ônibus como solução para a mobilidade urbana

O ex-prefeito de Bogotá, na Colômbia, é um grande defensor dos sistemas racionalizados de ônibus urbanos. Enrique Peñalosa ficou conhecido por promover uma reordenação no sistema de transporte da capital colombiana, com medidas drásticas que trataram de valorizar o modelo coletivo, o pedestre e o ciclista frente ao automóvel particular. Em entrevista ao portal Exame, o especialista em estratégias urbanas e pós-graduado em administração pública, foi firme ao dizer que o automóvel tem que ser restringido no cenário urbano por fatores que desestimulem seu uso, como a implantação do pedágio urbano, o valor mais caro da gasolina e da redução das áreas de estacionamento, algumas ações, que segundo ele, já deveriam ter sido adotadas, mas não isoladamente, e sim com a reestruturação dos transporte públicos, para oferecer maior qualidade e quantidade de viagens.

Criador do sistema Transmilenio, uma rede extensa de corredores exclusivos para ônibus que facilitaram o deslocamento diário dos bogotanos, o executivo se espelhou em uma ideia originária do Brasil, mas que por muito tempo ficou esquecida pelos governantes das médias e grandes cidades, e que agora começa a ser novamente repensada com os projetos de mobilidade urbana espalhados pelo País, o Bus Rapid Transit (BRT), ou os corredores para Trânsito Rápido de Ônibus, sistema que traz em sua essência um projeto bem elaborado, adotando linhas troncalizadas por vias totalmente segregadas, integração física por intermédio dos serviços alimentadores, da acessibilidade rápida e facilitada, do marketing e da comunicação.

Em sua entrevista, Peñalosa observa que os corredores de ônibus podem cumprir um papel importante, muito próximo ao dos sistemas metro-ferroviários, esses com ampla opção pelos governantes, que gostam de investir em um modal muito caro. Ainda, segundo ele, os usuários dos automóveis também querem a construção de novas linhas de metrôs e trens, pois acreditam que os outros irão utilizar os serviços e assim haverá uma diminuição de carros pelas ruas.

Peñalosa deixou bem claro em suas palavras que com o mesmo custo que se faz um quilômetro de metrô, pode-se construir trinta de faixas exclusivas para BRT. Para ele, a solução não é um problema técnico, nem econômico, é um desafio político. O executivo evoca um detalhe de projeto que é a correta implantação dos sistemas, que traz vantagem em todos os sentidos, sejam eles operacionais, econômicos e ambientais. E nos benefícios das viagens, foi enfático ao afirmar que é mais agradável ir na superfície, com a luz natural, do que ir enterrado embaixo da terra, como um rato. Em seu entender, as vias para automóveis é que devem ser enterradas.

Bogotá ainda tem problemas em sua mobilidade, entretanto, o Transmilenio provocou uma nova ordem em seu desenvolvimento. Claro que ainda há muitos problemas a serem resolvidos, pois as cidades são dinâmicas. A capital colombiana é o grande exemplo seguindo por muitas regiões que estão determinadas em modificar o atual panorama provocado pela oferta excessiva de vias para carros e de condições facilitadas para a sua aquisição, deixando o transporte público de lado, sem a devida prioridade. Peñalosa enfatizou que um ônibus no meio do tráfego é tão antidemocrático quanto não permitir que as mulheres votem. Em seu pensamento, todos os cidadãos são iguais e um ônibus com cem passageiros tem direito a cem vezes mais espaço nas vias do que um carro com um, concluiu.

Fonte: Revista Auto Bus