Quem vai pagar a conta do VLT?



Muito se fala sobre uma possível implantação do sistema de Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) para Natal e sua Região Metropolitana. O VLT, em uma linguagem bem popular, é uma espécie de bonde moderno, que pode circular pelas avenidas da cidade, juntamente com os carros, através de uma rede de trilhos criada especialmente para isso.

O transporte público executado através do VLT traz uma série de vantagens: Maior capacidade de transportar passageiros; Pontos de paradas mais simples e baratos que os de trens e metrôs; Mais conforto por circular em trilhos e não ter as armadilhas dos buracos; Uso da energia elétrica, menos poluente; Menor custo de operação que o metrô; Embarque e desembarque mais rápido.

O problema é que, o impacto financeiro e urbanístico para instalar um VLT de forma adequada em Natal é tão complexo que acho muito mais fácil um projeto desses virar um grande elefante branco ou uma grande frustração de projeto governamental do que ser viabilizado, apesar de todos os benefícios que ele traria para a cidade.

Não que o VLT seja algo que não mereça ser pensado. Nada disso. Mas é necessário queimar algumas etapas antes de direcionar milhões em investimento público em algo tão ousado.

Qualquer discussão séria sobre VLT em Natal passa por alguns questionamentos que, se não foram debatidos pelos agentes públicos, parecerá demagogia discutir a viabilidade desse modal para a cidade: As propostas de VLT até agora discutidas para Natal passam pelas principais avenidas? NÃO. Existe estudo da viabilidade econômica do VLT para Natal? NÃO. Foi pensando um sistema de integração com os ônibus, inclusive com bilhete único? NÃO. Já está claro quem vai explorar o sistema, Poder Público ou Iniciativa Privada? NÃO. Quem vai pagar a conta do VLT se o sistema for deficitário?

Sem uma discussão ampla e RESPONSÁVEL sobre esses questionamentos, não dá para levar qualquer empreendimento vinculado ao VLT pra frente. Ao menor sinal de amadorismo, a iniciativa privada não compra a idéia e se o sistema for gerido pelo Poder Público tem de ficar claro quem vai pagar a conta.

Apesar das vantagens, para que um sistema VLT seja viável economicamente, é necessário que as linhas sejam projetadas para passarem em avenidas com grande circulação de veículos e com média/alta densidade demográfica. Não dá para implantar um VLT em rotas de pouco fluxo, pois o custo da implantação alto não seria pago pela demanda de passageiros.

As atuais rotas dos trens urbanos de Natal não passam nem perto das grandes avenidas da capital potiguar e a tarifa cobrada atualmente no trem só é baixa porque é subsidiada pelo Governo Federal: o sistema é deficitário.

O projeto proposto até agora para o VLT, orçado em R$ 136 milhões e apresentado pelo Governo do Estado ao Ministério dos Transportes, trata apenas da modernização da frota e recuperação da linha férrea e terminais de embarque e desembarque dos trens urbanos já existentes no trajeto que liga a Ribeira à Nordelândia, em Natal. Um trajeto que, aqui para nós, seria mais uma figuração de solução de transporte público do que mesmo um valor agregado à cidade.

O VLT pode ser ótimo ou pode ser um grande desperdício de dinheiro público. Vários são os exemplos de sucesso, mas também de fracasso do VLT pelo mundo. O VLT do Porto (Portugal) fechou o exercício de 2010 com uma dívida de 351,7 milhões de euros (cerca de R$ 1 bilhão). Em Campinas/SP, o VLT entrou em colapso depois de 5 anos de operação. Principal motivo do fracasso? Não circulava nas principais avenidas e nos pontos de alta concentração de pessoas, ou seja, sem viabilidade econômica.

No próximo artigo, falarei sobre minhas opiniões a respeito do que pode ser feito para viabilizar uma discussão séria e um projeto viável de transporte público mais adequado a realidade contemporânea de Natal.

Fonte: http://www.nominuto.com/blog/mobilidade-urbana/