Carros usam 17 vezes mais espaço para levar mesmo número de gente que um ônibus


Numa avenida Pacaembu deserta e silenciosa, 48 figurantes entram e saem de carros e, depois, sentam-se em bancos dispostos dentro de um retângulo, demarcado por fita crepe, que reproduz as dimensões de um ônibus. Vestidos com camisa e calças pretas, os figurantes especulam a razão de estar ali –nem todos foram informados pela produção. “Acho que é para mostrar o luto de ficar no trânsito”, diz Adelson Freire, 49, figurante de programas de tevê e corretor.

Trata-se de um ensaio fotográfico da Folha para ilustrar a mobilidade na metrópole. O resultado: 48 pessoas em 40 carros (a média da cidade, 1,2 pessoa por veículo) ocupam, juntos, cerca de 840 metros quadrados, 17 vezes mais espaço na rua do que o mesmo contingente em um ônibus, em uma simulação de conforto dos passageiros. Os figurantes também reproduziram três outras situações: sentados em bancos, como se estivessem dentro de um carro imaginário, sobre bicicletas (reais) e num espaço que simula um vagão. Para tal, um trecho da avenida Pacaembu foi fechado pela CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) na manhã do domingo passado (17). A Folha pagou R$ 1.561,78 pela operação.

A experiência foi feita pela primeira vez em 1991, em Münster (Alemanha). Depois, repetida mundo afora. A intenção foi mostrar como o transporte coletivo e a bicicleta são capazes de ocupar menos espaço que o carro –e, no caso do ônibus e do metrô, carregando mais gente. Em tese, perfeito. Mas, diante de uma rede de transporte coletivo que está aquém da velocidade ideal (menos de 20 km/h; o ideal são 25 km/h) e de uma rede de metrô restrita (78 km), muitos escolhem o carro para se deslocar. “Esse ensaio induz à conclusão de que é uma maravilha andar de bicicleta. Bicicleta não é meio de transporte; é uma alternativa. E o ônibus não consegue atender todas as viagens. O carro não pode ser tratado como bandido. O pensamento idílico não resolve a questão da mobilidade”, diz Sergio Ejzenberg, engenheiro e mestre de transportes pela USP.

Fonte: Ricardo Gallo/Folha de São Paulo
Foto: Rodrigo Dionisio/Folhapress
Via FETRONOR