02/09/2014

Cumprimento de horários é o principal item para transportes de qualidade

Especialistas defendem tarifa social, mas para quem precisa. Mais de 20% acreditam que as tarifas deveriam ser subsidiadas integralmente pelo Governo Federal

Por Adamo Bazani, jornalista da Rádio CBN, especializado em transportes


Ônibus urbano. Pesquisa realizada pela NTU com 91 especialistas em transportes mostra que o principal atributo a ser conquistado para que um serviço de transporte seja considerado de qualidade é o cumprimento dos horários. Eles defendem também que as tarifas sejam financiadas para se tornarem mais baratas ao trabalhador. Foto: Josenilson Rodrigues.

Chegar ao ponto de ônibus e ter a certeza de que o veículo vai passar na hora sem provocar atrasos na rotina de quem depende de transporte público.

O que deveria ser uma prática normal, com raras exceções por problemas pontuais, é um sonho para quem se desloca por transporte coletivo.

E justamente o item “regularidade do serviço – cumprimento do horário” é o principal atributo para o transporte público ser considerado de qualidade.

O dado faz parte de uma pesquisa realizada pela NTU – Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos, apresentada no Seminário Nacional da entidade nesta semana em Brasília.

A pesquisa não é quantitativa e sim qualitativa. Entre os dias 07 e 25 de julho, por telefone, a NTU ouviu 91 formadores de opinião entre professores universitários especialistas na área de mobilidade, técnicos, gestores públicos, jornalistas do setor, empresários e representantes de conselhos de cidades, entre outros.

TRANSPORTE DE QUALIDADE É PONTUAL, RÁPIDO E SEGURO:
A regularidade do serviço é essencial para que o transporte alcance os níveis de qualidade exigidos pela população, aparecendo em primeiro lugar entre os itens apontados pela pesquisa, com 73,6% das respostas.

Como as respostas eram múltiplas, com mais de um item podendo ser escolhido, outros aspectos também ganharam destaque. Logo em seguida, aparece o tempo de deslocamento, incluindo as viagens em si e a espera no ponto de ônibus, com 72,5% das respostas.

De acordo com os especialistas ouvidos na pesquisa, além de pontual e rápido, transporte de qualidade é também transporte seguro. Em 57,1% das repostas, o item segurança dentro e fora dos ônibus é apontado como indispensável.

Os dados trazem um perfil de prioridades de investimentos e de tomadas de ações para a melhoria dos transportes, em especial, dos serviços de ônibus.

TARIFA JUSTA É AQUELA QUE NÃO COMPROMETE A RENDA DO TRABALHADOR:
A pesquisa também questionou os especialistas sobre tarifas, um assunto que ganhou destaque em junho do ano passado após as manifestações em diversas cidades o País.

Segundo o levantamento, 81% dos entrevistados disseram que a população “percebe” mais e tem preocupação maior com os reajustes de tarifas de ônibus do que com outros tipos de tarifas, como de água, luz, telefone e gás, por exemplo, mesmo que se os percentuais de aumento destes outros serviços forem maiores.

Um dos principais motivos é que, mesmo com o Vale-Transporte, a tarifa de ônibus é sentida todos os dias pelo cidadão, que vê o saldo dos bilhetes sendo descontado ou o dinheiro saindo da carteira todos os dias. Já as outras tarifas são assimiladas normalmente uma vez por mês, causando impacto menor na percepção.

De acordo com 39,6% dos especialistas entrevistados, uma tarifa justa é aquela que não compromete a renda do trabalhador.

Quanto à tarifa-zero ou tarifa social, 23,1% dos entrevistados defendem que o Governo Federal deveria custear integralmente as passagens de ônibus como forma de justiça social. Mas 18,7% dos entrevistados dizem que a tarifa social deveria ser destinada apenas às pessoas que realmente precisam.

QUEM ANDA DE CARRO DEVE SUBSIDIAR QUEM ANDA DE TRANSPORTE PÚBLICO:
A pessoa que anda de ônibus utiliza dez vezes menos o espaço urbano e emite 17 vezes menos poluentes do que a pessoa que se desloca de transporte individual. Não é questão de perseguir quem anda de carro, mas simplesmente numérica e lógica. Um ônibus padron, que pode ter lotação de 80 pessoas, em 13,2 metros, substitui 40 carros que com seus escapamentos a todo o vapor, ocupariam 140,8 metros, considerando a realidade de que um carro em média leva duas pessoas apenas em seus deslocamentos.

Assim, quem usa transporte público acaba, por opção ou necessidade, trazendo benefícios ambientais e econômicos para as cidades, com a redução da infraestrura de trânsito necessária para tantos carros, do número de acidentes, dos gastos com saúde pública em decorrência da poluição e, ao não lotarem mais as ruas e avenidas com mais veículos, reduzem também as bilionárias perdas ocasionadas pelos congestionamentos. Por outro lado, também por opção ou necessidade, quem anda mais de carro, contribui para que estes gastos subam.

Para baratear o sistema de transportes aos trabalhadores e oferecer uma contrapartida pelos benefícios gerados por quem usa ônibus, os especialistas defendem que o uso do carro acabe subsidiando o transporte coletivo.

Hoje, na maior parte das cidades, quem se desloca por ônibus paga integralmente pela viagem, apesar usar de maneira mais racional o espaço, os recursos da cidade e até mesmo ambientais.

E esse subsídio para o transporte público viria não da posse do carro, afinal, todos têm direito de possui um veículo e não podem ser cerceados quanto a isso.

O problema hoje nas cidades brasileiras é o uso que se faz do carro. E é sobre este uso que o cidadão que gasta mais espaço e recursos públicos deve contribuir para compensar aquele que gasta menos.

Dos entrevistados, 92,3% apoiam a cobrança de estacionamentos públicos. Já 85% defendem uma tarifação maior da gasolina em prol do barateamento do transporte coletivo.

Não existe serviço gratuito. É necessário pagar impostos, salários de motoristas, cobradores e outros funcionários, pneus, combustíveis, lubrificantes, manutenção e a renovação contínua de frota. O dinheiro tem de sair de algum lugar.

Na Europa, por exemplo, em diversos países, o passageiro só paga 50% dos custos das tarifas. A outra metade vem por diversas fontes de financiamento, como o uso dos carros.

PARA QUAIS ÁREAS DEVEM SER DIRECIONADOS OS INVESTIMENTOS?
Os transportes necessitam de diversos tipos de investimentos para que possam corresponder ao que a população necessita.

Mas os recursos das cidades são limitados e estes investimentos precisam de planejamento.
Para isso, é necessário definir prioridades.

Onde investir mais e primeiro?
Os investimentos em criação e expansão de meios de alta capacidade de transporte, como redes de metrô e corredores de ônibus modernos (BRT – Bus Rapid Transit) receberam 74,7% das respostas.

Para o atendimento de demandas menores, as faixas simples de ônibus receberam 69,2% das sugestões. E hoje, para os profissionais e estudiosos, a tecnologia deve ser aliada ao transporte público para melhoria dos serviços.

Segundo a sondagem, 68,1% das respostas destacam a necessidade de investimentos em gestão de tráfego e frotas, com GPS e centrais de monitoramento, com acesso às informações pelos passageiros, e em bilhetagem eletrônica eficiente e que traga vantagens reais para os passageiros.

NÚMEROS:
De acordo com dados o IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 46 milhões de deslocamentos por dia são feitos por transporte coletivo. Deste total, 87% são realizados por ônibus.

Fonte: Blog Ponto de Ônibus

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