31/10/2011

Empresas reclamam da falta de investimento em estradas

Por: Roberto Lucena - Repórter da Tribuna do Norte

Na tarde de ontem, cerca de dez ônibus estavam estacionados na garagem onde funciona uma oficina. Doze mecânicos se revezavam na tarefa de consertar ou substituir molas, pneus e atender aos motoristas que chegavam com um relatório de reclamações. Não demora muito e mais um ônibus da empresa Jardinense chega ao local com uma série de reparos a serem feitos. A maioria, em decorrência das péssimas condições das rodovias que cruzam o Rio Grande do Norte. Na tentativa de desviar de buracos e da vegetação que avança sobre o asfalto, motoristas forçam o freio, motor e o desgaste dos ônibus é inevitável. Além da Jardinense, outras empresas de transporte de passageiro e cargas, além de motoristas e caminhoneiros, reclamam do acúmulo de prejuízo ao fim de cada mês.


Foto: Roberto Lucena

Segundo o vice-presidente do Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros do Estado (Setrans/RN), Francisco Cabral Filho, o estudo divulgado pela Confederação Nacional do Transporte (CNT) apontando que 68,2% das rodovias do RN estão em situação regular, ruim ou péssima, não é novidade para os empresário. "Essa situação é sentida diariamente dentro das empresas. Há muito tempo que precisamos de investimentos nesse setor e nada, com exceção das rodovias federais, é feito", disse.

Francisco é diretor administrativo da empresa Expresso Cabral, que, atualmente, possui 46 ônibus circulando em 40 municípios distribuídos nas regiões Salineira, Mato Grande e litoral Norte do Estado. De acordo com o diretor, as RN's 104, 120, 221 e 064 são as que necessitam de reparos emergenciais. "Na RN-120, que liga a BR-304 ao município de Caiçara do Norte, colocamos um ônibus menos confortável para os passageiros mas que aguenta trafegar pela estrada. Lá, praticamente não existe asfalto. A maior parte da estrada está só no piçarro", informou.

A reclamação é compartilhada pelo empresário José Baltazar, proprietário da Viação Jardinense. A empresa atua com 60 ônibus em 54 municípios do RN, a maioria, localizada na região Seridó. O empresário afirmou que, mensalmente, o prejuízo com o conserto e reparo de molas, caixa de marcha e compra de pneus novos gira em torno de R$ 15 mil. "O que mais acontece são as molas quebrarem. Por causa dos buracos, há um esforço muito grande nessa parte dos ônibus. As más condições das rodovias estaduais também acabam diminuindo o tempo de vida útil dos pneus", disse. Baltazar apontou as RN's 086 e 089 como as mais esburacas. "A gente não tem tantos problemas com as BR's, mas nas rodoviais estaduais é complicado, principalmente nesses dois trechos".

A buraqueira, falta de sinalização e cuidado com as árvores traz prejuízos não somente para os empresários do transporte de passageiros. O gerente de operações da Transp Transporte de Petróleo LTDA. afirmou que os custos de manutenção aumentam 40% devido às más condições das rodovias. "Os problemas não são apenas mecânicos. A fadiga do motorista também é um prejuízo imensurável para a empresa. Gasta-se muito tempo em viagens que poderiam ser feitas com mais rapidez. Mas é preciso parar para desviar de buracos e evitar acidentes".

O caminhoneiro Kleber Almeida leva, todas as semanas, peças das torres eólicas que estão sendo instaladas no município de Parazinho. O serviço é cansativo e estressante. Parte do desgaste, afirmou Kleber, é culpa das estradas. Por causa do excesso de peso da carga, é preciso paciência para chegar ao destino final. O caminhoneiro contou que num trecho de apenas 35 quilômetros, entre Bento Fernandes e João Câmara, gasta quase duas horas. "Se fosse numa estrada bem conservada, fazia isso no máximo em 40 minutos", disse.

Governo anuncia operação tapa-buraco

Em Mossoró, a governadora Rosalba Ciarlini anunciou um investimento de R$ 84 milhões na recuperação de estradas estaduais. Além disso, a gestora assinou a Ordem de Serviço para a execução da duplicação da RN-013, que liga a cidade de Mossoró à Praia de Tibau. Houve também o lançamento de edital para a construção de estrada que liga a BR-304 à fábrica Porcellanati Revestimentos Cerâmicos LTDA. De acordo com o Departamento de Estradas e Rodagem (DER), as obras fazem parte do programa tapa-buracos.

A assessoria de comunicação da governadora afirmou ontem, via twitter, que "não havia projetos no Governo. Mesmo assim, assegura que programa de recuperacao de estradas não vai parar". De acordo com o DER, a verba anunciada pela governadora é de recursos próprios e será investida em várias RN's. De acordo com o órgão, existem equipes de trabalho em todo o Estado e há uma atenção maior pela região Agreste e litoral Sul. "Não há prazo de encerramento paras os reparos. O Governo vai investir até conseguir verba maior para construções definitivas", disse a assessoria de imprensa do DER.

Sem recursos suficientes, o Governo do Estado insiste numa solução criticada pelo própria diretor do DER. "O tapa-buraco não é a solução. A solução é a reconstrução, mas não há recurso", disse, semana passada, à TRIBUNA DO NORTE. A expectativa é de que, no próximo ano, parte do empréstimo contraído pelo Governo junto ao Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD), no valor de R$ 540 milhões, aprovado pela Assembleia Legislativa, além de emendas parlamentares, sejam usados nas construções.

"O tapa-buraco não resolve nada. O Governo precisa entender que investimento em infraestrutura de estradas é fundamental para o desenvolvimento desse Estado. Nossas riquezas estão sendo desperdiças por conta da má conservação das vias", disse o vice-presidente do Setrans/RN, Francisco Cabral Filho.

BRs que cruzam o RN também exigem atenção

A superintendência da Polícia Rodoviária Federal, no Rio Grande do Norte, considera que no geral a malha viária federal está em boa situação no Estado. Mas reconhece que há sim alguns trechos considerados perigosos. Inclusive já aqueles duplicados na BR 101 já entregues pelo Dnit.

As ressalvas feitas nessa quinta-feira levam em conta não apenas os dados do mapeamento da Confederação Nacional dos Transportes (CNT), mas as estatísticas de acidentes e sinistros registradas pelo departamento regional. Há um trecho de nove quilômetros de extensão da BR-406 [entre os municípios de Ceará Mirim e Natal] onde os buracos, somado à característica de pista única da rodovia, causam constantes acidentes.

Naquele trecho circulam também veículos de grande porte, como os treminhões, aumentando ainda mais o risco, embora ocorra constante fiscalização parte da Polícia Rodoviária. Os buracos obrigam muitas vezes os condutores invadirem a faixa rolamento destinada aos veículos que trafegam em sentido contrário, aumentando o risco de colisões. A situação das rodovias - do pavimento à sinalização - não está entre a principal causa de acidentes e mortes nas rodovias federais no Rio Grande do Norte, segundo avalia a PRF-RN.

Já a BR-304, uma das principais rodovias federais no Rio Grande do Norte, tem como principais fatores de risco aos condutores o fato de ser pista simples.

De acordo com o inspetor Everaldo Morais, de setor de comunicação da PRF-RN, a chamada "reta tabajara" - município de Macaíba - é hoje um trecho perigoso porque além da pista simples, há ainda a desobediência à sinalização.

Quanto à rodovia federal BR-101, os relatórios da PRF apontam a existência de trechos perigosos à altura dos municípios de Goianinha, São José de Mipibu e Parnamirim. E esta é uma rodovia com obras entregues recentemente. Em Parnamirim, por exemplo, aquele retorno de acesso a Cajupiranga, há risco ao condutor porque o ponto de conversão ficou muito próximo ao acesso àquele bairro.

Trafegar pela rodovia BR 101, trecho em duplicação, passou a ser ainda mais arriscada porque em decorrência das obras há constantes mudanças de sinalizações móveis.

Fonte: Tribuna do Norte

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